Era bom que eu soubesse o que era a vida pois, mas não, iludi-me com o poder, com o ser um “senhor no meu castelo”… no fim de contas, nem senhor, nem castelo… se pensar bem… nada… a minha vida resume-se a nada! O que é que fiz de bom? Nada! Ajudei alguém? Nada! Fui feliz? Nada! Tive família, encontrei o amor, uns braços que me acariciassem? Nada! É por isso eu sou o “Nada”, é esse o meu nome… nada…
Mas como podemos viver tamanhas ilusões? Como se pode esquecer que um dia morremos e não trazemos nada de nada na mão! Que fiz eu da minha vida?! Meu Deus! É curioso, agora chamo por Deus!!! Chamo por Deus! Eu que a vida toda O reneguei… agora chamo por Ele… mas como se pode chegar a este ponto… como? Que fiz eu da minha vida?!!!! Não me faltava nada materialmente falando… Comi e bebi sempre do melhor, melhores camas, melhores lençois, melhores fatos… e no entanto, sempre procurei em tudo, a cura para este vazio que sempre me corroeu… mas nunca me ocorreu dividir fosse com quem fosse, nem um pão…. E agora, chegado aqui… vejo trabalhadores a abrir os braços para nos receberem, a oferecerem água, um sorriso calmo… e que faço eu?!!! Olho e caio de joelhos no chão… vejo o quanto desperdicei a minha vida… podia fazer tanto, podia ter feito tanto… mas porque foi necessário chegar aqui, a este estado, despido de tudo, para entender então, que tudo é muito, quando não temos nada… choro agora porque recebo um abraço, eu que nunca abracei ninguém sem interesse, sem que não tivesse algo a ganhar…. Que fiz eu da minha vida?... como se pode viver tão afastado desta realidade: não morremos!!! Mudamos de sito!!! Como o podemos esquecer ou negar de forma tão veemente! Como!?? Que vai ser de mim? Que vergonha… porque não evaporo?! Egoístas, loucos como eu sem utilidade, deviam poder evaporar-se! Só damos trabalho! Há muitos mais aqui como eu… que vergonha pertencer a este grupo imprestável…
E agora, que faço eu?! Se não morro, se não me evaporo, que me espera? Mas porque ainda pergunto? Terei de aprender… viver mais uma vez – e se for só uma… - e desta vez como pobre mendigo para que saiba valorizar tudo o que me rodeia, desde a côdea de pão, ao calor do sol, ao teto na noite de chuva, à saudação de um vizinho, ou a festa do cão vadio… De senhor a mendigo… e serei capaz? De viver assim?
(chora copiosamente e é consolado pelos irmãos espirituais colaboradores dos
trabalhos. Segue para o seu plano espiritual, assim como outros aqui presentes em
situação idêntica. Dirigem-se para um estágio de preparação para uma reencarnação em
breve, numa colonia preparada para estes irmãos desesperados. Olha para mim em
agradecimento por recolher o seu testemunho sem conseguir articular qualquer palavra.
Respondo-lhe eu siga em paz, também eu já terei sido igual um dia)