Que hei de eu de fazer, falar é muito
fácil, mas quando se leva uma facada nas costas, se vê o sangue a escorrer e
sente a dor? Por acaso vou abraçar o gajo que me matou? Vou? Espera aí que já lá vou! Então não?!!
Matou-me, tirou-me a vida!
Separou-me da minha família! Deixei tudo
por causa do gajo! Se o apanho… bem nem sei…
sei lá se ele já morreu… o que eu sei é que quem morreu fui eu… enfim
não é bem morrer… estou aqui vivo a falar… a comunicar… pois, não morri… mas
parti!!! Deixei tudo para trás…
Se eu sei o que lhe fiz a ele? Não me
lembro… pois não me lembro… acho que também não devo de ter sido lá muito
bonzinho, se é para falar muito honestamente… é que é difícil aceitar, que se
morri assim, é porque asneirei também muito…
No fundo eu sei, que também tenho
culpas… muitas culpas, na verdade… não era “flor que se cheirasse”, mas a gente
tenta sempre chorar aos corações, passar por coitadinhos, até tinha
“morrido”… mas que faço eu, continuo a
fugir do traste que fui… qual família?
Vivia com um gato e até o gato saía de casa á procura de comida… de que
me queixo eu?... pena, queria apenas que
tivessem pena de mim… que alguém não tivesse medo de mim e me acarinhasse… acho
que é só isso que queria… que quero… quero encontrar paz… estou cansado de
fugir de tudo, de todos e de mim mesmo, se calhar isso em primeiro lugar…
Na vida temos grandes ilusões, ser o
maior! O mais importante, saber impor respeito! Nem que fosse á força! Meter
medo! Pois e no fim, acabasse sozinho
ou numa valeta a apodrecer! Foi o que me aconteceu… bebi, provoquei, meti medo,
assustei e em desespero, o outro defendeu-se… mereci tudo o que me aconteceu… e
se calhar ainda mais…
Tudo o que consegui foi na base do
meter medo! Se conseguir alguma coisa, for ter sitio para morar… mas sozinho…
no fundo… não sabe a nada… vociferava
quando apenas queria um abraço… que
ilusão, por acaso as abelhas que fazem o mel, vão aos picos, ás pedras buscar o
polén? Então que estava eu á espera? Se
nunca fui um jardim, apenas um espinheiro, como poderia esperar que alguém se
chegasse a mim? Como? Sou inteligente,
mas não agi como tal!!! Hoje olho para
trás e apenas sinto vergonha… não vivi,
pensei que vivi! Talvez neste momento esteja mesmo a viver… a sentir a vida… a
entender o que fiz… o que gostaria de ter feito… foi uma vida perdida e se calhar no caminho
com a minha arrogância, fiz outros perderem-se… Vou carregar comigo esse peso,
mais esse remorso… e ainda, o bem que poderia ter feito e não fiz… tenho uma
grande divida perante Deus para pagar…
oxalá não volte a cair na mesma tentação, cobrar amor com
prepotência… que loucura…
Desculpem, não consigo falar mais… é
muito duro ver o que somos, o que fazemos… e o que poderíamos ter feito… e mais
ainda, ver o que nos espera…
Preciso descansar, por favor, não
tenho mais força, não posso olhar mais para mim mesmo… estou derrotado… por favor… ai se o
arrependimento matasse, neste momento oferecia a minha vida àquele a que me
“matou”… que lhe terei feito para o levar a esse acto desesperado… não aguento
mais…
Só peço a Deus, como meu primeiro
acto de regeneração, que o ampare… o remorso é uma coisa que tira a vida
lentamente… e eu merecia a “sorte”, o destino que tive… foi bom… precisei ser
picado na alma para repensar a minha vida…
deambulei não sei por onde… nem quanto tempo… desisti… deixei-me ficar
deitado a morrer até hoje… quando olhei para o Céu e pedi a Deus… Piedade para
um pecador…
Chorando é amparado por um irmão
espiritual dos trabalhos e segue para o
seu plano espiritual onde vai
ser reeducado e preparado para nova
reencarnação. Xavier é o seu
nome, 52 anos, português.