Desejei ser rico, em principio, apenas queria ajudar todos quantos pudesse… mas com o tempo deixei-me corromper e fascinar com o brilho da vida fácil… acabei por me perder… de uma nobre intenção, passei a vitima do meu egoísmo, da minha vaidade, da minha necessidade de me valorizar…. Acabei por esquecer que quem me valoriza é a minha consciência tranquila e Deus, mais ninguém…
Amigos… amigos… poucos verdadeiros
tive… e com o dinheiro, muitos outros se fizeram amigos… tonto, louco…
alimentei a minha insegurança, crendo inconscientemente, que com mais amigos
seria mais feliz… seria capaz de
preencher o vazio que me tormenta e cega… mas onde está a verdadeira felicidade?
Onde?
Tudo perdi… não soube gerir
fraternamente o que me foi emprestado por Deus para gerir e repartir pelos que
estavam pior que eu… que felicidade conquistei? Apenas a breve ilusão de ser
mais do que na realidade sou… apenas queria que todos gostassem de mim… apenas
queria que me amassem… não queria mais sentir a solidão… o medo de ficar
sozinho… e olha, agora, nem dinheiro,
nem amigos… estou sozinho… vivi os meus últimos dias como um mendigo… com fome
e dormindo debaixo da ponte… e pensar
que me cheguei a deitar em lençois de cetim e talheres banhados a ouro…
Meu Deus, Meus Deus… tinha tantas
boas intenções… se não me tivesse deixado levar pela minha vaidade, poderia ter
sido muito útil, poderia ter aliviado muito sofrimento… agora fico a dever a
todos aqueles que poderia ter ajudado e não o fiz… em vez de estar aqui feliz…
estou aqui miserável e como um miserável… sinto a vergonha de ter falhado…
tantas boas intenções que eu tinha… mas porque perdi a fé? Porque me senti um
Deus na Terra?... que loucura, que loucura, que estupidez… como o dinheiro nos
leva a fazer loucuras… tal é a nossa necessidade de nos sentirmos amados… mas
porque esquecemos que a nossa verdadeira vida é no “Céu” e não aqui? Aqui tudo
é temporário! Como o pude esquecer? Como me pude iludir? Como fui eu perder os
propósitos que fizeram Deus confiar em mim? Onde ficou a minha promessa de ser
apenas um humilde instrumento de Deus na Terra, não O Deus na Terra?!!!...
Porque me esqueci de rezar, de pedir
orientação a Deus? Onde ficou a minha
humildade, o conhecimento de que sem Deus nada sou? Como pude ser tão fraco, tão louco?!... meu
Deus Perdão… Perdão!... DE joelhos vos peço perdão… falhei… julguei-me forte,
capaz de ser instrumento para o Bem, mas sucumbi ao brilho do ouro, ao tilintar
das moedas, à vida fácil… esqueci que a minha missão era auxiliar os outros e
não brincar nem apropriar-me do que não me pertencia… esqueci meu Deus a minha Missão… perdão,
perdão Senhor… imploro perdão…
Já sei que viverei nova vida de
miséria, fome e doença… aprenderei para que servem as moedas… aprenderei o
devido valor do dinheiro… apenas moeda
de troca para coisas necessárias á vida no corpo… mada mais… tudo que for
excesso… só prejudica!
É a minha conclusão, é o que me já me
fizeram entender aqui…
Para me redimir de ter esbanjado o
que não me pertencia, viverei precisando de tudo… até da saúde…
Senhor Deus, nas vossas mãos me
entrego humildemente… e se um dia mais tarde voltar a ter alguma coisa na minha
mão, ficarei apenas com o necessário para a minha subsistência, repartirei com
quem precisar… nem que seja uma palavra amiga… repartirei tudo o que tiver em
mim ou comigo.
Estou pronto para seguir, aceito o
meu castigo… aquele que criei para mim próprio… sou o verdadeiro e único
culpado pela minha situação triste em que me encontro.
Estas palavras fazem parte da minha
vontade de me redimir. Não esqueçam, não
são as coisas matérias que nos fazem felizes… partimos, morremos sem nada nas
mãos… apenas seguem connosco a dor ou alegria que resultam da vida que vivemos…
Oxalá eu me tivesse sempre lembrado
da minha pequenez… que Deus tudo pode e tudo tira quando não merecemos…
Até um dia…
J. Sotto
Um miserável hoje e amanhã…