Eu queria amor, eu queria encontrar quem me amasse... eu queria ter sido feliz... e ter feito alguém feliz... senti-me vazia por dentro e por fora...
Não encontrei o sentido da vida e só agora começo a compreender o sentido da morte... se é que a morte existe... mas como poderia eu saber que a morte não existia... não ouvi isso a ninguém... apenas ouvia e acreditava que a morte era a solução para tudo, para todo o tipo de sofrimento... caramba que foi um susto ver que não me evaporei... nem podia acreditar... continuava a viver!!!...
Enforquei-me na oliveira do pátio da casa... perdi a noção do tempo faz muito tempo... acordei um dia, aqui... faço parte do grupo de loucos que aqui é recebido e colocado numa sala á espera até que acordemos... ninguém pergunta detalhes da vida seja a quem for... nada é bonito para se contar... só desgraças e vergonha, nada que valha a pena recordar... muita vergonha do triste papel que apresentamos... uma mão cheia de nada...
Estamos sós nesta sala, mas não sentimos a solidão propriamente dita, algo nos reconforta sem sabermos bem o quê... creio que é o ambiente de boa vontade aqui gerado... de entre aqueles que por nós vão zelando - sim porque passeiam entre nossas camas, e sente-se uma suavidade a cair sobre nós... - não sei exprimir !... esperam que acordemos por nós... sem criticas, sem pressa... e de repente tocamos a mão de alguém que se demora um minuto ao pé de nós... é o nosso sinal desesperado por atenção... sempre sem palavras, em silencio, e no entanto, entendemos o que nos querem dizer... sentimos a calma... o amor... a boa vontade para connosco... observei longamente todo este despertar... até eu mesma conseguir reagir... estava empedernida... cristalizada... dormente... acho que nem com os meus próprios olhos eu via... seriam só os olhos do meu espírito? Já percebi que o corpo não é o mesmo que tinha... e um dia toquei eu o vestido, a roupa de alguém que passava... foi o meu sinal em que estava pronta para iniciar um novo ciclo da minha vida... Queria tanto sentir um abraço... queria sentir que estava entre vivos... que vivia de novo... deixei tanto por fazer... tanto... não sei o que fazer...deixo-me ir... estou calma e pronta para seguir em frente... aguardo que me levem, sei que será para um sitio onde trabalharei e mais tarde terei que vir à Terra... em condições mais difíceis do que aquelas que trouxe... Estou preocupada, mas não aflita... sente-se paz aqui...

Agradeço a todos os que cuidaram de mim, agradeço a todos os que oraram por mim! Agradeço a todos a quem abandonei e que mesmo assim, continuara a a rezar por mim.
Até um dia, em qualquer ponto da Vida!
Com verdadeiro amor me despeço,
Florinda
1932