É pá corri
muito! Voei! Por aqui , por ali e não parei em lado nenhum, não criei raízes em
lado nenhum, não me apeguei a nada… comi,
bebi… gozei até mais não… não sofri muito… também não fiz tanto mal assim….
Apenas queria satisfazer-me a mim… nunca obriguei ninguém a nada… só andava
comigo quem queria… nunca prometi nada a ninguém… hoje reconheço que isso não era viver
verdadeiramente… morri um dia… assim de repente e nunca ninguém rezou por mim…
não deixei saudades a ninguém….
Nem no dia do meu funeral apareceram aqueles
que comigo farravam.. pouco mais do que o coveiro tinha e a senhora da
mercearia que me guardava o pão… D. Justa,
acho que só a senhora me acarinhou sem querer nada em troca… doce velhota sempre com uma palavrinha de mãe
para mim, fizesse chuva ou sol… sempre lá tinha o meu pãozinho… e quantas vezes
não paguei e ela não reclamou…
Olhando para
trás… foi a única pessoa verdadeiramente boa que conheci… e estive com tanta
gente, viajei tanto! Conheci tantas cidades, tantas culturas… Encontrei mais assim como eu! Isso sim, existem por todo o lado, entre os
ricos e os pobres… que tristes somos…
queremos tanto que nos amem, que nos tomem nos braços, que nos oiçam, que nos
afaguem, e no entanto usamos as pessoas como sacos descartáveis: retira-se o
conteúdo que desejamos e o resto vai fora… era assim que eu tratava as
pessoas… como coisas descartáveis… e a
que me levou isso? A uma estúpida vida de solidão, a uma morte de solidão, a
uma fuga á realidade em solidão… a uma existência vazia…
Na minha
cabeça apenas tenho a sua imagem a sorrir meigamente para mim… como pode ser de
tanta gente que conheci, apenas a pessoa a quem eu dei menos valor, ser a única
a rezar por mim?
Nada lhe
ofereci… nem paguei muitas vezes o que lhe devia… nem bom dia ás vezes dizia…
Como dói
sentir que fui uma besta insensível…
Ajudem-me
por favor! Estou cansado de ser tão imbecil…
Devo a esta senhora tudo! Devo-lhe a vida reconheço!
É seu amor a
única coisa que me anima e me dá uma razão para viver.
Por favor,
por Deus, ensinem-me, ajudem-me! Quero
ir ao encontro deste Anjo que se cruzou comigo! Espera-me?!!
Não sei se a
conseguirei enfrentar sem cair de joelhos a chorar…
Seja! Pelo
menos uma vez nesta Vida a fazer o que está certo!
Até um dia,
se poder ser, aqui a trabalhar também, a abraçar imbecis como eu… não há pior
raça do que aquele que não se quer ver a si mesmo…
Inácio P.