Estava
doente, tudo me corria mal, fui ter com a curandeira que prometia s solução
para minha vida, até a lotaria poderia ganhar, afiançava estendendo a mão…
Mas como
pode alguém dizer tamanha patranha?... A verdade é que na altura acreditei…
tudo fazia para conseguir as bênçãos que tanto tardavam a entrar na minha
vida… Dei-lhe tudo o que tinha e não
tinha… e nunca as bênçãos chegavam…
vivia problema em cima de problema…
desesperado e cada vez pior e em maiores dificuldades… suicidei-me… faz muitos anos… atirei-me de um penhasco…
fiquei todo partido… ainda estive no hospital… mas sempre inconsciente… Foi aí, que compreendi: eu e o meu corpo
somos coisas diferentes!! Via o corpo deitado na cama, engessado!!! E eu de pé!
Era uma alma penada!!!! Vivia separado do meu corpo!... Vivia! Sentia-me a
pensar, a sentir, a falar – embora a maioria não me prestasse qualquer
atenção… eu existia separado do meu
corpo e tínhamos condições diferentes!!! Tinha dores, tinha dores, mas era
confuso…
Um dia
sentei-me no chão a chorar, no quarto onde estava o meu corpo… era já tarde,
sentia frio e começou a escurecer… o meu corpo continuava parado, na cama…
engessado… sentei-me a um canto…. Não me
lembro quanto tempo estive assim nesta apatia… até que chegou o padre
confessor… despenteado, barba mal aparada… mas com uns olhos meigos, uma voz
calma… dirigiu-se ao meu corpo, tomou a minha mão engessada, tocou meus dedos e
pediu a Deus compaixão para mim… nesse momento vi toda a minha vida a passar
pela minha frente… como se de uma tela se trata.se… senti calor no meu coração… um sentimento tão
tranquilo me invadiu, apenas queria descansar… sinto-me envolvido em Luz, num
calor tranquilo… adormeci…
Acordei
passado muitos anos num hospital, em tudo diferente daqueles que conheço… mantinha o meu segundo corpo de alma… a mesma
autonomia de sempre… Fiquei confuso, mas
afinal eu tinha “morrido”, não tinha? E no entanto vivia… Foi duro acordar e ver que tinha sido
separado de tudo o que recordava… e cada vez mais, me convidavam para
participar em ações de socorro na Terra.
Cada vez me surpreendia mais, eu fui um daqueles aos quais agora vou em
auxilio… Estou vivo! Há que aceitar!
Nestes
últimos tempos, amo, trabalho e estudo…
e em breve volto a reencarnar… e volto a tentar ser gente!
Até um dia!
Francisco P.
Alfaiate da
própria vida