Tanto
palavreado, tanto barulho! É pá gritar é na rua, lá fora… calem-se por amor de
Deus! Que dor de cabeça pá… nem sei o
que me aconteceu… estava bem e de um
momento para outro, vejo-me no chão!!! O
corpo para um lado e eu a ver-me do outro lado!!! É coisa mesmo de outro
mundo!!! Loucura total! Morri, foi isso! já tinha ouvido falar… mas nem queria
acreditar, tinha morrido! E os anjos,
não vi nenhuns?!... até perceber o que
estava a acontecer, ninguém se chegou a mim… ali “fiquei” no chão e de pé ao
mesmo tempo! Até parecia que tinha saído
da casca de um ovo!!! Saí de dentro de mim e não sabia como entrar!
Gritei,
chorei, deitei-me ao meu lado, e assim fiquei… chorei, tive medo… fiquei
aliviado, feliz e infeliz ao mesmo tempo… uma confusão… não sei quanto tempo
estive assim…. Quando me acalmei, e ainda deitado ao lado de mim, chorei mais
uma vez… chorei baixinho, nem sei se de medo ou de alegria… começo a rever a
minha vida, desde o principio de tudo… vi amigos, família… o que fiz a uns e a
outros… e a mim mesmo… sobretudo o que
estava a fazer a mim mesmo… com o tempo
fui endurecendo, tornei-me frio, calculista… interesseiro… sentia vergonha do
que estava a ver…desprezei quem me deu a mão…
fui vil… será por isso que fiquei
sozinho?... Anjos, tiveram medo de mim?
Ninguém me veio socorrer… estive tanto tempo sozinho…
Finalmente
percebi que estava mesmo sozinho, não havia nada a fazer, fiquei deitado a meu
lado… a respirar… a respirar…. E começo a rezar, a pedir perdão a Deus… foi a
primeira vez que em adulto rezei… estava
calmo, mas sentia as lágrimas a cair pela cara… era duro demais, estar sozinho
naquele momento… lembro-me que fechei os olhos, não quanto tempo… já não
suportava mais ver a minha vida – vazia… apenas isso: vaziiiiiiaaaa…
De repente,
começo a sentir um calorzinho agradável nas mãos… não sabia se imaginava ou se
era real… continuei de olhos fechados… e esta sensação de calorzinho,
alastrou-se á minha cabeça, peito, costas, pernas…e abri os olhos… vi meu pai e
minha mãe!!! Levantei-me e abracei-os com toda a minha força… nem podia crer!
Como os amava! Que saudades! Estavam ali! Que saudades! Chorei
convulsivamente! Que reencontro tão bom!
Como me arrependo daquilo que fui… que vergonha! Meus pais, meus pais… amam-me mesmo assim!!!...
Como pude eu ser tão egoísta na vida…
Meus queridos pais… mesmo sem
palavras, entendi tudo o que sentiam e me queriam dizer… nem posso crer…
partiram tão jovens… revoltei-me com Deus por mos ter levado tão cedo…. esqueci
Deus, como poderia um Deus existir se permitiu tamanha injustiça… eu era apenas
“uma criança”, precisava deles como do pão para a boca…
Meus pais
queridos, estavam de novo a dar-me vida!!! De pé no meio deles, vejo dois
homens calmos, compreendi que acompanharam os meus pais. Mais calmo… agora mais
calmo agradeço a Deus esta Bênção mais uma vez… é certo que não mereço… vou ter isso em conta em todas as coisas que
fizer daqui para a frente… se volto a viver, não quero cair no mesmo sofrimento
que estava a viver: sentir-me completamente só, perdido… e com medo…
Vou com
eles, de braço dado com os dois… sinto-me vivo, quente, vivo… já não tenho
medo… vou com eles… e amanhã, que vai ser de mim?... não importa, não estou
sozinho e sinto que não vou ficar mais abandonado, entregue só a mim mesmo… os
meus pais estão comigo, sinto-os mesmo comigo! Não me abandonaram afinal… Estão
vivos! Estão VIVOS! Eu estou vivo… só o meu corpo está ali no chão deitado…. Eu
estou vivo também!!!
Sigo com
eles… não sei destino, pouco me importa, estou com os meus pais! Vou com eles,
vai tudo correr bem! Vou com eles!
Até um dia,
quem sabe!
Juvenal
Triste
54 anos
Brasil –
Curitiba