Desertos de dor, foi assim que vivi, desertos verdadeiros! Em mim nada medrava, nada brilhava, só dor, só tristeza, só desalento, só medo, só noites e dias a chorar... compreendia o tudo que estava mal nos outros, mas eu, eu nunca estava errada!
Hoje de nada vale chorar e bater no peito! Nada! Nada altera, o que fui e o que fiz, o que ainda sou, se pensar bem... De que vale estar arrependida, de ter a noção de que apenas perdi tempo. acaso isso altera a minha condição de nulidade, de ser errante? Não, não basta querer ser diferente, é preciso provar, demonstrar esse querer, é a esta conclusão que chego, é a isto que me resumo, a uma tonta mulher com tanto ainda para chorar, para aprender! Tenho medo de fracassar de novo, sei que em breve vou voltar a viver na Terra, nova família, mas mesmas coisas para viver.. è isso que quero, devo isso a quem me tem ouvido e acarinhado até aqui nesta casa.
(refere-se ao Centro Espirita)
Mas mais que tudo, quero mudar, não quero olhar para o espelho e sentir nojo e revolta por tudo o que desperdicei e pelo mal que causei - fui egoísta muitas vezes... ainda que não soubesse que a vida continua, devia pela minha própria consciência reconsiderar muitas atitudes que tomei. Há algum tempo que estou nesta casa, comecei por ser socorrida e ouvida, por gente que eu não conhecia e a quem nada tinha para oferecer para além de um sorriso...
(refere-se aos trabalhadores espirituais, sempre presentes no Centro)

Vou um dia, em breve acho, reencarnar, é assim que se chama o voltar á Terra. Quero reconhecer que a Vida é eterna, que estamos sempre a aprender, aqui e aí... quero ser melhor, não voltar a sentir este vazio e vergonha que sinto hoje. Quero ser gente, quero sentir que alguém gosta e se importa comigo, quero voltar a encontrar aqueles que me têm as lágrimas e curado as minhas feridas. Quero mostrar que sou gente, quero merecer a confiança que me tem sido demonstrada, não quero mais sofrer com a ideia do vazio depois da "morte", já que ela não existe! Sou a prova disso!
Não sei se conseguirei o que quer que seja, mas vou tentar! Vou ser gente e não uma imbecil deambulando apenas! Vou aproveitar o meu tempo, vou ser útil para mim e para quem estiver comigo, mas isso não quer dizer que vou ser um tapete, quer dizer que vou aprender a ouvir o que me querem dizer para começar, assim como vou começar a ouvir a minha consciência no fundo; no fundo, senti muita vez o que estava a fazer de errado, mas achei que não era o melhor... O melhor era eu estar acima de todos, fosse lá de que forma fosse! Pois... agora vejo o resultado... nada tenho!
Já sei que não vou estar sozinha, embora não veja quem estará lá comigo
(refere-se ao local do plano espiritual para onde vai prosseguir a sua aprendizagem)
É bom saber isso! É reconfortante! Tenho medo de falhar de novo... mas é bom saber que não estarei sozinha - nunca o estive, mas não sabia... não sabia de nada!
Já falta pouco para reencarnar, não te reconheceria de certeza... já sei que não é assim que funciona, ou estava a pensar que teria de te agradecer também por registares as minhas dores. Daqui par aa frente, serei sempre grata a todos os que me deram atenção. Já compreendi se eu der a mão. alguém me dará a mão também, se eu matar alguém, alguém me matará também... não o quero esquecer...

Chegou a hora de eu seguir para outras paragens, muito há para fazer antes de vir à Terra de novo: novos objetivos - quer dizer: vou encará-los de forma diferente - novo corpo a definir, nova família... rever amigos antes de partir (dizem-me que tenho amigos que me aguardam, mas não me recordo quais, e família, nem me lembro se a tive!...
Sinto-me feliz e ao mesmo tempo envergonhada, que vou dizer que fiz na Terra?
Vou continuar a mentir?! Não quero isso! Mas como vou viver aqui? Prefiro reencarnar tão breve quanto possível e recomeçar!
E já que com um corpo (reencarnada) esqueço isto aqui, então que o seja, sentirei menos vergonha de mim mesma.
Tenho de ir, vou aprender a ser gente!
Até um dia, um dia que será mais feliz do que hoje.
Obrigada a todos!
Uma irmã,
Deolinda.